[Codando Histórias] - Do GTA RP aos códigos de Programação?

Monique Melo
5 min readApr 11, 2021

6 meses de uma pequena trajetória que culminou em uma desenvolvedora motivada, cansada e com pequenos códigos .

Acredito que seja consenso mundial que 2020 foi um ano globalmente caótico. O isolamento me proporcionou novos vícios e refúgios, tudo isso somado ao fato de que eu estava completamente sozinha e me arrastando na empresa em que eu trabalhava, ainda que no início tenha parecido empolgante e promissor. Era meu terceiro emprego na área comercial e dessa vez era em uma grande empresa. Um salário fenomenal, rotina tranquila, galera jovem e descolada. Cervejinha pós trabalho bombava ali no território dos Faria Limers antes da pandemia. Parecia que dessa vez ia rolar, mas não, eu estava infeliz. Já havia superado uma síndrome de burnout em outra empresa dois anos antes, dessa vez não quis pagar para ver, então provoquei uma demissão.

Diante do desemprego e da pandemia iniciando, comecei a investir em “drogas” mais pesadas: jogar League of Legends cada vez mais. Até entrei para um time na época, mas acabou. Fiquei tão desanimada que resolvi buscar outro jogo. Foi quando descobri o GTA Roleplay. Para quem não sabe, GTA RP é um jogo de interpretar papéis. A dinâmica é bem diferente do GTA Online tradicional que a galera fica só se matando. No RP, as coisas acontecem como na vida real, onde você precisa lidar com questões de trabalho, amizades, relacionamentos amorosos, crimes, etc. Tudo isso respeitando as regras da cidade para não ser preso ou expulso. Você usa um microfone e interage com as outras pessoas no mapa tradicional do GTA, que tem algumas modificações. Detalhe: até onde sei o Roleplay é proibido pela Rockstar (dona do GTA), mas quem liga, né? Deu certo!

Eu comecei o jogo como cidadã bem honesta, pagando impostos, trabalhando em uma mecânica, mas deu tanta treta que todo mundo foi demitido e eu fui parar em uma facção. Nessa facção acabei fazendo uns quatro amigos e resolvemos ir para outra cidade mais hypada. Lá, entramos em outra facção onde eu atuava como braço direito do chefão. A própria Bibi Perigosa.

Sempre rolavam as famosas noites de pescaria no GTA RP. Começávamos o farm de peixes umas 22h e íamos até a madrugada. Em uma dessas, conversei bastante com um jogador que pertencia a mesma facção que eu. Chamarei ele aqui de ‘Javazinho’, por puro deboche mesmo, já que ele atua pacientemente com Java, mas calma, não vamos falar mal do C# que não deu certo. E é exatamente aqui que eu sou xingada. Nessa resenha toda falamos bastante sobre computação e também sobre contabilidade, que é a minha primeira formação, apesar de nunca ter atuado ativamente nessa área.

O papo foi tão envolvente que a gente burlou completamente as regras do RP ao falarmos de nossas vidas pessoais. Quem nunca? E seguimos essa conversa longas horas pelo Discord, fora do RP. Então entramos no papo que nunca poderia ter acontecido, me lembrou até do dia que me apresentaram o League of Legends. Se você clica em instalar, nada bom pode vir disso aí. Então vieram os nomes estranhos: Python, Javascript, Java, C#, HTML, Banco de Dados e por aí vai. Apesar de sempre ter gostado de jogos para PC, ter passado grande parte da minha vida diante de um computador e de ter feito a manutenção dos meus PC’s a vida inteira, ouvir aquelas coisas era totalmente novo. Comecei a repensar toda a minha vida e percebi o quanto eu me interessava por isso, ainda que em situações e formas diferentes.

Soltei em alto e bom som no impulso “acho que vou estudar isso e fazer uma faculdade de computação”. Dar essa notícia para minha mãe, aos 25 anos, estando formada e pós graduada na área contábil, não foi fácil. A notícia pareceu ter o mesmo peso de falar: “mãe, eu matei alguém”, foi completamente inconcebível para ela. Mas rapidamente, eu me matriculei e iniciei a faculdade de Engenharia da Computação (afinal de contas, eu também me interessava demais pelo hardware da coisa e por muita matemática).

É aqui que a gente faz um pequeno salto de 6 meses até os dias atuais, onde eu atuo há 3 meses em uma startup que tem como produto principal um SaaS de precificação inteligente. Comecei minha jornada exatamente no dia 26/09/2020 com o mestre Gustavo Guanabara, assistindo seus vídeos sobre linguagem Python, eu passava o dia todo estudando e praticando todos os dias. Finalizei com louvor os mundos I, II e III até partir para os desafios da plataforma URI Online Judge (ainda falaremos muito sobre isso).

Nesse caminho todo, eu nem preciso dizer que achava programação extremamente difícil e que nunca iria aprender. Não entendia listas de forma alguma, até que, finalmente, as coisas fluíram. Adquiri uma boa prática em Python e comecei a me candidatar para diversas vagas onde ouvir “não” era bem habitual devido à falta de experiência e por não saber quase nada. Eu mal sabia POO em Python. Mas um belo dia consegui uma entrevista na empresa que atuo hoje em dia. Eles foram enfáticos na pergunta “A gente viu aqui que você não sabe C#. Você estaria disposta a aprender?”. Eu nem pensei duas vezes, só respondi “amanhã mesmo, se for o caso”. A entrevista foi leve, descontraída, não precisei forçar, porque eu emanava felicidade e amor ao falar sobre programação. Era fácil. Então, sabe-se lá o porquê, fui aprovada. A vaga era pra Desenvolvedor Junior, mas me ofereceram a oportunidade como Estagiária, nada mais justo.

Hoje eu atuo desenvolvendo Crawlers de sites ecommerce na linguagem C# e esse textão todo vai para todo mundo que eu conheço e que eu não conheço que tá iniciando na programação: não desista! Parece clichê? Sim. Mas entenda, você não é burro, você não é incapaz, só precisa de tempo, de foco e de vontade. Não pule etapas! Programar é prática e constância. Lembre-se que eu estou programando há apenas 6 meses, eu também não sei quase nada, mas eu tenho vontade. E sei que você também tem.

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Monique Melo

Atualmente Desenvolvedora Back end e aspirante a desenvolvimento de joguinhos mobile com Unity. Vamos falar sobre programação?